sábado, 26 de setembro de 2009

O DENTISTA COMO EMPRESÁRIO – PARTE I

Sei que este assunto poderá causar cólera em muitos colegas.Não tenho a menor pretensão em ser o dono da verdade mesmo porque, ao longo de mais de duas décadas dedicados a nossa profissão, plantei muitos sonhos e colhi inúmeras desilusões.Mas nunca me limitei ao mundinho solitário do consultório. Para se alcançar o sucesso, o profissional deve ser eclético e procurar outras fontes de informações que não sejam as ligadas especificamente a sua profissão. Sempre fui um empreendedor nato, e para mim essa visão era muita clara, o consultório antes de ser um sacerdócio era um negocio e como tal, deveria gerar lucro. No inicio da década de 90, fiz um curso de empreendedorismo que abordava desde administração até noções de marketing pessoal.Após este curso, tive a exata noção de que gerenciar o próprio negócio não era um monstro de sete cabeças mais também não era fácil, bastava para isso, aplicar com racionalidade esses conhecimentos e seguí-los à risca. Algum tempo depois eu já possuía a radiografia financeira de todos os meus custos e que me trouxe a certeza que eu tanto precisava: atender a convênios no meu caso específico, era um péssimo negócio. Deixar-se seduzir por uma agenda sem horário disponível e um monte de gente aguardando para ser atendido, era bom para o cliente e um excelente negócio para as operadoras.Uma doença crônica que acomete a maioria dos dentistas a qual eu me incluo, é o super ego e a empáfia. Mesmo que não tenham do que se orgulhar, precisam demonstrar a sociedade e principalmente aos colegas, que são profissionais com algum prestígio e sucesso. Recentemente uma pesquisa demonstrou que os profissionais mais arrogantes e prepotentes aos olhos dos simples mortais, pela ordem são: advogados, médicos e dentistas. De certa forma essa postura é plenamente justificável, graças ao valor que a sociedade dá a essas profissões e a imagem de sucesso que nossos queridos mestres insistem em passar durante o curso de graduação, baseando-se em suas próprias conquistas. O sucesso passado não garante o sucesso futuro. Muitos colegas me procuram mostrando o seu descontentamento com os convênios, acusando-os de exploradores e desonestos, referindo-se respectivamente aos valores pagos pelos procedimentos e as glosas.
Entretanto, querer mudar a regra do jogo em beneficio próprio depois do acordo pactuado, me parece puro oportunismo. Os contratos de credenciamento são objetivos e as regras bem claras. Se você aceita o principal, não faz sentido reclamar do acessório.Você aceita se quiser e é assim que a coisa funciona.Alegar que leu e não entendeu, é querer justificar o injustificável.
Hoje, atender a vários convênios é coisa para gente grande.O processo tem que ser profissionalizado. Para se ganhar dinheiro tem que haver algumas condições básicas:
1 - estrutura física adequada, capaz de atender a demanda com equipe multidisciplinar especializada.
2 - equipe de colaboradores bem remunerada, envolvida e comprometida.
3 - acompanhamento incansável do padrão de qualidade para evitar glosas e reconfecção dos trabalhos através de um auditor de qualidade e administrador.
4 – conhecimento profundo dos custos.
No próximo capitulo falarei mais sobre este assunto.O dentista solitário,o famoso faz tudo, não tem condições de atender e administrar convênios.Ou se qualifica para tal, ou fecha as portas.A escolha e sua.

Pense nisto!

DA DESILUSÃO A ESCRAVIDÃO


Há pouco tempo fui procurado por um colega de turma que depois de 23 anos dedicados exclusivamente a odontologia, decidiu mudar de ramo e aventurou-se em uma profissão diferente da sua formação formal. Aos 46 anos, desiludido com a falta de perspectiva profissional, desfez-se de seu consultório e dos seus sonhos, acalentado por anos a fio de estudo e qualificação. Com contas a pagar e uma filha para criar, submeteu-se a um emprego de segunda classe, muito aquém da sua capacidade intelectual, deixando de lado preconceitos e criticas mordazes de seus familiares. Durante dois meses, fez vários cursos na área da segurança privada e diferenciou-se ainda mais, afinal, além de curso universitário, exceção na área de segurança, ainda por cima, era oficial do exército com larga experiência. Conseguiu o seu primeiro emprego trinta dias depois, como segurança patrimonial em um restaurante de luxo, apostando que seria uma vitrine para a sua ascensão na área. Durante quatro longos meses passou por todo tipo de humilhação jamais imaginado. Sentiu na pele o desprezo e a invisibilidade que esses profissionais possuem junto às pessoas comuns. Boa pinta, falante, inteligente, cortes e muito comunicativo, ficava em pé, estático e incomunicável por 9 horas a fio, sob o olhar de desprezo por parte dos clientes que o enxergavam como uma ameaça iminente e não como um profissional cumprindo o seu papel. A compensação vinha no final do mês através de um contracheque bem polpudo no valor de R$900,00,incluído vale refeição,vale transporte e assistência médica para ele a para a filha.
Como um verdadeiro guerreiro, concluiu que alguém com as suas qualificações, jamais conseguiria algo melhor, afinal, em uma área onde se exige somente o ensino fundamental para exercer a profissão de vigilante, ele era um PHD de Harvard. Decidiu então fazer o caminho inverso e voltar a clinicar, mais a realidade que encontrou, não foi menos cruel.
O fim da escravatura no Brasil deu-se no século XVII em 1888, 23 anos depois dos Estados Unidos. Em 122 anos desde a sua promulgação, tenho a sensação de que nada mudou, ou melhor, mudou, passou da forma acintosa e vergonhosa para a forma velada. A relação de trabalho para com os dentistas, ao meu ver, não poderia ser mais cruel e imoral.Esqueça os anos de estudos e o investimento empregado, as horas de sono e lazer desperdiçados em busca do sucesso.Quando a oferta de qualquer profissional seja na área que for, superar a demanda, quem da às cartas é o mercado.
Colegas bem sucedidos, empresarialmente falando, oferecem subempregos a módicos 30 a 40% de comissão para o atendimento de seus convênios, oferecendo em troca, absolutamente nada. Não existe um contrato de trabalho formal, que de garantias que receberá no final do mês o justo e correto.Carteira assinada, vale transporte, vale refeição, assistência médica e adicional de insalubridade nem pensar.Exigem que se faça o atendimento através de um planejamento pré-estabelecido, não permitindo questionamento técnico, ético,legal ou moral.Exigem qualidade e dedicação por parte do profissional, desde que faça o atendimento em 20 minutos e do jeito deles, afinal, a sala de espera esta cheia e a fila tem que andar.Tempo é dinheiro!
Com excesso de profissionais no mercado e consultórios a míngua incapaz de prover nossas necessidades mínimas, nada mais lógico e porque não dizer, justo, do ponto de vista deles. Ou o dentista se submete a subempregos na área, ou muda de profissão. Nos dois casos é lamentável. É como esse meu amigo diz: “ para ganhar o que os convênios e os colegas estão dispostos a pagar, é melhor ser diarista do que dentista...”...

Pense nisso!